Seja de que lado você esteja na disputa pelo hit do Carnaval este ano - Resenha do Arrocha, Trap do Trepa Trepa, Descer pra BC, etc. - é fato que haverá uma ou duas canções chiclete dançando na cabeça nesses dias de folia.
A busca pela música do Carnaval é o Santo Graal para gravadoras e artistas. Significa ter suas propriedades criativas pipocando o tempo todo na rádio, na rua, na TV e nos streamings musicais - e quanto maior o tempo de atenção, maior também o potencial de receita e da fixação de um talento no cânone pop do verão, ou mesmo além dele. Por isso, astros como Léo Santana, Anitta, Ivete Sangalo e Pedro Sampaio investem pesado na festa.
Mas se seu Carnaval pede também uma dose de nostalgia, abaixo estão os principais hits dos últimos 25 anos. No geral, a relação leva em consideração dados do Spotify, plataforma de streaming que frequentemente agrega os maiores sucesso ano a ano do feriado, do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), premiações e a cobertura da mídia na época.
2024: Macetando, de Ivete Sangalo e Ludmilla
O power duet da música pop nacional rendeu uma faixa altamente dançante, de refrão simples e elétrico, receita ideal para um sucesso carnavalesco. É também o exemplo de que muitos desses hits passam por uma maturação antes dos foliões saírem às ruas - a faixa foi lançada em dezembro do ano anterior, de forma a surfar pelo verão todo. A faixa foi a mais buscada e ouvida no streaming entre os dias 10 e 13 de fevereiro daquele ano, segundo o Spotify.
2023: Zona de Perigo, de Léo Santana
Principalmente no Nordeste do país, mas não só lá, Léo Santana é um dos garotos-propaganda do Carnaval. Em fevereiro passado, o requisitado soteropolitano fez de dois a quatro shows por dia aos fins de semana de fevereiro - e por todo o Brasil. Ainda que seja veterano da festa, parte dessa fama naturalmente se deve ao sucesso de Zona de Perigo no Carnaval de 2023 - que assim como Macetando depois dela, reforça o eterno 'jogar de ladinho' como um dos grandes temas da música pop nacional. Foi a música mais ouvida em 24 estados brasileiros no feriado.
2022: Malvadão 3, de Xamã
Devido à variante ômicron do coronavírus, o retorno tanto do Carnaval das avenidas quanto o dos blocos foi jogado para abril daquele ano, o que favoreceu a progressão da faixa Malvadão 3, no topo das mais ouvidas durante o primeiro semestre do ano - resultado que foi fruto de uma campanha de divulgação que incluiu virais e desafios em redes sociais. É o exemplo de um momento em que o trap superou o arrocha em popularidade entre carnavalescos.
2020: Tudo Ok, de Thiaguinho MT com Mila e JS O Mão de Ouro
Em 2020 o que se destacou foi a mistura do arrocha com outro ritmo urbano, o funk. A música foi a mais ouvida entre o período de 21 e 25 de fevereiro, de acordo com o Spotify. Inclusive, o artista recifense JS O Mão de Ouro de fato fez juz ao nome artístico em 2020, pois colaborou em outro arrasa-quarteirão do verão, Sentadão, sucesso em particular nas ruas de Recife, Salvador e Fortaleza durante o feriado.
2019: Bola Rebola, de Anitta, Tropkillaz e J Balvin
Foi um Carnaval tardio em 2019. Mas a campanha de Anitta para cravar um hit carnavalesco não chegou atrasada. Ainda que a faixa tenha sido lançada mais para o fim de fevereiro, a cantora e sua equipe trabalharam em um clipe provocante, antecipado por meio de uma série de teasers. Tiro e queda: foi 1° lugar no YouTube e Spotify no decorrer do feriado.
2018: Envolvimento, de MC Loma e Gêmeas Lacração
Dias antes do feriado de 2018, a receita criada por MC Loma e as Gêmeas Lacração alcançou o posto de maior viral global no streaming. A canção que ensinou o Brasil "a descer, a subir, a quicar e rebolar" é um funk dono de uma batida contagiante. Também marca uma crescente do gênero entre as preferidas por carnavalescos.
Mais outro exemplo do período de popularidade do funk no Carnaval, em uma época de alta do ritmo como um todo no Brasil. Além do quê, se você curtiu a festa de 2017, provavelmente saiu de casa com a coreografia de MC G15 decorada. O domínio foi confirmado em junho daquele ano por dados do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad): Deu Onda foi mesmo a mais tocada durante o Carnaval, superando Léo Santana, que na época cantava Santinha e Cheirosa aqui é ela.
2016: Metralhadora, da Banda Vingadora
As amazonas da Banda Vingadora garantiram um quê de militarismo nas festas de 2016 com seu hit, chamado simplesmente Metralhadora, ou Paredão Metralhadora. A onomatopeia "Trá-trá-trá" dá o ritmo do refrão, e mesmo as fantasias do clipe inspiraram foliões na época.
2015: Gordinho gostoso, de Neto LX
As cinco mais tocadas do Carnaval em 2015 foram Lepo Lepo, Gordinho Gostoso, de Neto LX, Praieiro, Tem Xenhenhém e Vai no Cavalim, segundo números do Ecad. Mas foi Neto quem desponta na memória sobre aquele ano com sua faixa irreverente e de referências hoje curiosas: de "Boné da John John", a "Não sou Friboi, mas estou na moda", em menção ao que, na época, era a maior empresa do país.
2014: Lepo Lepo, de Psirico
Sim, a música foi sucesso também no Carnaval seguinte, mas surgiu um ano antes como o hit carnavalesco de 2014. A permanência desse pagode chiclete no imaginário brasileiro (Xamã faz referência a ele em seu hit de 2022, por exemplo), se deve a um outro fator: ela foi a música por excelência da Copa do Mundo no Rio de Janeiro, tendo sido escolhida pela FIFA entre as faixas oficiais do Mundial, usada pela torcida argentina para ironizar seus rivais e com coreografia aproveitada até por Ricky Martin em passagem ao Brasil na época. Não teve mesmo para a caxirola.
2013: Ziriguidum, de Filhos de Jorge
Campeã da pesquisa Bahia Folia naquele ano e comum em trios elétricos - mesmo Ivete Sangalo reproduziu o hit - Ziriguidum marcou o Carnaval daquele ano, quando também foi considerada banda revelação da festa pela mídia. A faixa, lançada em outubro de 2012, é uma versão composta por Gileno e Gilmar Gomes para a música cubana Yiri Yiri Boum, de Thorn Silvestre Méndez Lopez.
2012: Ai Se Eu Te Pego, de Michel Teló
Ai Se Eu Te Pego está para o sertanejo Michel Teló como o papel de Harry Potter para Daniel Radcliffe. Não tem como, nem mesmo com a passagem do tempo - a coisa virou marca registrada definitiva do sujeito. E tudo começou com o Carnaval de 2012, quando a música colocou um feitiço no país. Lançada em setembro do ano anterior, ganhou fôlego o verão todo, foi adotada por blocos e trios elétricos e chegou a desbancar Ivete e Claudia Leitte como preferência carnavalesca em Salvador.
2011: Liga da Justiça, de Leva Nóiz
A hoje falecida banda baiana cravou um dos mais curiosos hits do Carnaval com Liga da Justiça, sobre os heróis da DC Comics contra os vilões Lex Luthor, Cotinga e Pinguím. "Nenhuma música que eu venha a fazer será igual a Liga da Justiça. Parece que até hoje é lançamento", disse o músico André Rhamon (o 'Superman' do clipe) em conversa com o GShow anos depois, em 2019.
2010: Rebolation, do Parangolé
Ivete e Claudia Leitte, termômetros da popularidade do Carnaval, e até Beyoncé em show na época em Salvador, fizeram referência a Rebolation, faixa do Parangolé, antiga banda de Léo Santana. Provas de que, mais de uma década antes de Zona de Perigo, o baiano já fazia acontecer.
2009: Cadê Dalila?, de Ivete Sangalo
A faixa de Ivete Sangalo foi sucesso do verão e se manteve também como hit do Carnaval em 2009. Uma música com sabor distinto: a guitarra e os ares egípcios fizeram desse axé algo único. Escrita por Carlinhos Brown e Alain Tavares, a música brinca com uma suposta crise no axé music, aposta publicada por alguns jornais da época. No lugar dessa projeção, garante haver futuro para o Carnaval de Salvador. Cadê Dalila? foi eleita a música do carnaval 2009 por dois prêmios importantes: o Bahia Folia e o Dodô & Osmar.
2008: Mulher Brasileira (Toda Boa), de Psirico
Oficialmente premiada como destaque do Carnaval baiano, Toda Boa de Psirico - também conhecida como Mulher Brasileira - movimentou o país no feriado bem antes do grupo transformar Lepo Lepo em preferência nacional.
2007: Praieiro, de Jammil e Uma Noites
Você já leu o nome dessa faixa nessa lista, mas o sucesso dela começou lá no verão de 2006 e 2007. Era a época em que Tuca Fernandes foi vocalista do Jammil e Uma Noites, cantando o refrão impossível de esquecer, lançado anos antes em 2005: “Sou praieiro, sou guerreiro, tô solteiro, quero mais o que?"
2006: Café com Pão, de Afrodisíaco
Na boca da galera, o primeiro sucesso da banda Afrodisíaco ficou conhecida como Vixe Mainha ou Óculos Escuros, sinais de que os versos viciantes acabaram maiores que a própria obra. Da mesma forma que outros hits dessa lista, foi adotada aquele ano por titãs carnavalescas, no caso Ivete e Daniela Mercury, que colocaram Café com Pão para tocar em seus trios badalados. Também venceu o Bahia Folia daquele ano.
2005: Coração, de Rapazolla
Rapazolla foi unanimidade - algo nem sempre comum - entre as principais premiações do Carnaval brasileiro. Com o meloso clássico Coração, venceram o trófeu Band Folia como cantor revelação do Carnaval, o Troféu Dodô & Osmar, por cantor revelação e melhor música do Carnaval, assim como o Bahia Folia. Criado em 2001, o grupo de axé está em atividade até hoje.
2004: Maimbê Dandá, de Daniela Mercury
Daniela Mercury, outra das rainhas dos trios elétricos, cravou a primeira posição do Troféu Bahia Folia em 2004 com Maimbê Dandá, uma homenagem à cultura africana no Brasil. Foi um de seus maiores sucessos de carreira, e até hoje é o último número um da cantora nas paradas do país.
2003: Voa Voa, do Chiclete com Banana
Bell Marques e cia. planejaram muito bem Voa Voa como o hit carnavalesco daquele ano, lançado oficialmente para a festa e aliado ao anúncio de um novo DVD durante a folia baiana, mais especificamente na passagem do tradicionalíssimo bloco Camaleão. No fim deu certo: terminou sendo premiado como o maior sucesso do feriado.
No entanto, a agência Reuters apurou na época que a estratégia não teve só aliados: "[Voa Voa] foi tocada pelo menos três vezes durante o trajeto [do Camaleão] de domingo. A maioria dos foliões não se incomodava com a repetição, mas era possível notar alguns insatisfeitos, soltando frases como 'de novo' ao ouvir o começo da canção", relata.
2002: Festa, de Ivete Sangalo
Quis o destino que Festa, primeira faixa de Ivete neste milênio a receber a honraria de música do Carnaval, e presente por 13 semanas no topo das paradas nacionais, não falasse ao brasileiro só sobre Carnaval, a "festa no gueto" que consta no refrão. Ela também remete a outra celebração: com ela, Ivete cravou também a música tema da conquista do Penta na Copa do Mundo de 2002, realizada em julho daquele ano, sobre a Alemanha.
2001: Bomba, do Bragaboys
Outro campeão oficial entre os carnavalescos baianos, e vencedora do Festival de Verão do carnaval da Bahia, o hit do Bragaboys é outra que foi capaz de atravessar o tempo. Sem ideia do que colocar na playlist da sua festa, seja ela qual for? Pois é impossível não reagir ao estourado início dessa faixa: "O movimento é sensual/ O movimento é sexy..." O tempo só não foi o melhor amigo da banda, que deixou de existir em 2003.
2000: Xibom BomBom, de As Meninas
O Brasil deu boas vindas ao novo milênio com um hino de puras good vibes. É impossível confirmar, mas talvez daria para apostar que ninguém no planeta botou Xibom BomBom, de 1999, para tocar enquanto curtia uma melancolia. Ela esteve entre as mais pedidas da MTV Brasil (sinal da crescente popularidade do Axé fora da Bahia) durante o feriado e o álbum de mesmo nome vendeu mais de 100 mil cópias na época, segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Disco (ABPD, hoje conhecida como Pro-Música Brasil).
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